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"Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso." Franz Kafka.
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Hoje estou completando 20 anos e me sinto uma pessoa bem
diferente de quem eu era ontem, com 19, mas pretendo manter a essência. Não que eu tenha me metamorfoseado em um inseto ou seja lá o que for, ainda assim, a metamorfose foi responsável por esse sentimento, e me sinto relacionado à obra de Franz Kafka de muitas formas, mas isso é assunto pra outra hora.
Ainda
no dia anterior eu entrei no Facebook e por uma maldita curiosidade dei uma olhada nas
conversas que mantinha na época, tudo para sentir uma vergonha colossal, puta
que pariu. A forma como eu conversava com meus amigos ou “chegava” em alguma garota
era de lascar, e eu lembro muito bem de me sentir confiante falando daquela
forma. Enfim, não quero entrar em detalhes sobre isso e só quis tocar nesse
assunto pra poder relembrar de uma época que o meu Eu de hoje considera
absolutamente vergonhosa. Vocês também tiveram essa fase? Será que o meu eu de
10 anos no futuro vai pensar o mesmo de quem eu sou hoje? Acho que não, por que
de certa forma estou pelo menos um pouco satisfeito com quem estou me tornando e pelo menos
passei a dar mais valor a minha saúde física, algo que não fiz durante meus
primeiros 18 anos de vida. Tenho feito exercícios regularmente e isso tem me feito
muito bem, espero que também faça diferença no futuro.
Fiz uma amizade virtual recentemente com uma pessoa que
escreve muito bem, me faz rir à beça com seu humor que me lembra o Kurt
Vonnegut, pra falar a verdade, ele por inteiro (até onde eu conheço) me lembra
este escritor por algum motivo, talvez por sua forma de se expressar, ou talvez
por seu humor, mas acima de tudo, por ele ser totalmente sincero. Abraços, Jotabê.
Por falar em Kurt Vonnegut, o último livro que li dele (Café
da Manhã dos Campeões) me marcou tanto que considerei um momento catártico em minha
vida (até escrevi uma resenha na época que li, mas acabei não postando). O
livro me cativou desde sua introdução, ele dizia que sua mente estava repleta
de lixo e podridão que havia sido imposta a todo custo em sua cabeça e para
esvaziar sua mente escreveu este livro como presente de aniversário para si
mesmo na ocasião em que completava 50 anos. Rapaz, quando estou lendo seus
livros sinto que estou muito próximo do escritor, como se estivesse lendo um
diário. Neste livro em específico o próprio Kurt Vonnegut aparece como O
Criador. Também me sinto dessa forma lendo as postagens do blog do meu amigo
Jotabê, é claro que seu blog é um espaço onde ele escreve seus relatos e
pensamentos, e isso facilita a aproximação, mas não é sempre que você se conecta
dessa forma com um escritor.
Mas não é apenas sobre isso que quero falar, gostaria de
falar sobre os meus planos, se é que tenho planos. Nos últimos dois anos eu
tomei decisões que mudaram drasticamente a minha vida, e tento imaginar quais
decisões irei tomar em 2023 que terão este mesmo efeito.
Vou listar as maiores decisões que tomei e suas
consequências.
2020 – Me mudei da Bahia para o Goiás e comecei a a
me preparar para vestibulares.
2021 – Larguei minha preparação para vestibulares e
comecei a trabalhar como pedreiro. Essa aqui surpreendeu todo mundo que eu
conhecia. Pontos positivos: fiquei forte e juntei uma grana. Pontos negativos,
acordava às 05:30 e só chegava em casa 19:00, (isso por que eu ia de carona com
o patrão, imagina pra quem vai e volta de ônibus) acabava não tendo disposição
pra mais nada.
Sobre o meu trabalho, tenho que admitir que na verdade me
fez muito bem. Aí você se pergunta, “como diabos alguém diz que foi bom
trabalhar em um emprego que consumia todo seu tempo e disposição?!”, e o motivo
pra ele ter sido bom, é que ele me distraia.
Durante a pandemia eu tive algumas crises e acabei perdendo
muito peso, estava desacreditado e pessimista sobre muita coisa. Para minha
sorte, eu comecei a trabalhar com o meu primo, e para nós, a obra era uma
grande distração. Estávamos ali carregando material, rejuntando, aprendendo a
colocar cerâmica, e mais uma porrada de coisa. Ganhamos vários apelidos, entre eles,
Badecos (por que fazíamos de tudo), Burros de Carga (após alcançar a marca de
23km em um dia apenas subindo escada com material nas costas), Reis do Rejunte
(esse inflou meu ego), Rockeiro (esse era só meu), entre outros. Mas o que
realmente marcou esse período da minha vida foi ficar o dia todo e todos os
dias com esse moleque, competir quem era mais rápido, quem comia mais, conversar sobre tudo, caçar encrenca com os estagiários, rir até perder o
fôlego, reclamar sobre o trabalho diariamente e mesmo assim continuar nele, e mais um monte de coisa. Não ligava se fosse imaturo em alguns momentos, estava me divertindo, e aproveitei o quanto pude.
Conheci gente de todo canto do Brasil, tinha o baiano, o maranhense, o
cearense, o paraense, e por aí vai. Tenho muita história de pedreiro pra contar,
mesmo tendo trabalhado apenas 1 ano e meio nessa área, um dia conto uma ou duas
por aqui.
Entretanto, o fato é que eu me cansei disso tudo, foi bom, mas
apenas por um período, agora eu não quero nem saber de obra. O serviço que eu
estava acabou recentemente e aproveitei a oportunidade pra dar entrada no seguro
desemprego e vir de imediato pra minha cidade natal, na Bahia, já que eu teria
que vir de qualquer forma para as eleições (ainda não transferi meu título de eleitor. Mas meu tempo aqui já está acabando
e logo terei que voltar para o Goiás, mas não para ser pedreiro, não quero
diminuir a profissão, só não é isso que quero para minha vida. Decidi que vou
aceitar a ajuda dos meus pais e voltar a estudar, dessa vez vou entrar direto
em uma faculdade com bolsa ao invés de tentar passar em uma federal, se ocorrer de dar certo no futuro, ótimo. Já consegui
um emprego à noite que vai me possibilitar trabalhar e estudar, então eu acho
que vai dar tudo certo.
Aconteceu muita coisa comigo desde que me mudei para o Goiás, perdi muito peso, peguei um pouco de volta, namorei com uma garota e, como todo apaixonado, achei que fosse ficar com ela pra o resto da vida, mas não deu certo e hoje enxergo que foi bem melhor assim. Encontrei outra pessoa que me faz muito bem e me da todo apoio que preciso, tirei minha carteira de motorista, inclusive, mês que vem já vou pegar a definitiva. Fiz muitas amizades, perdi entes queridos, adotei uma cadela (Jolyne), um gatinho (Policarpo) e uma tartaruga (Jolynesin). Teve mais coisas, mas já me cansei de falar sobre isso então vou encerrar por aqui. Ano que vem vou reler este texto para ver como as coisas mudaram.
Se cuidem.